Sopra um vento frio no meu rosto quando abro a janela do carro. Uma brisa ligeira mas fresca, daquelas que se sentem quando vamos com a janela aberta já no final de uma tarde de Outono. Uma avenida cheia de movimentos, o zumbido de vozes e imagens desfocadas. Tanta coisa ecoa na minha cabeça central e na cabeça do meu coração uma depressão mostra sinais evidentes do quanto estou cansada, esgotada, gasta, vazia, suja, fraca e impotente.
Descubro, mais uma vez, que ainda tenho muito que penar, sozinha. E sinto inveja dos outros, por não ser uma daquelas pessoas a que os sentimentos e angústias não são tidos em conta de análise profunda do conhecimento do fracasso, do erro, do "o que é que correu mal aqui". Pergunto-me vezes sem conta o que é que correu mal, o porquê de tanto consumo destrutivo e corrosivo.
Preferia uma dor física, um braço partido, uma perna, um motivo válido para as minhas dores. Um analgésico e tudo passava.
Não há analgésicos para estas dores.
Entretanto, caio mais umas quantas vezes e o meu lado esquerdo parte mais umas vértebras e costelas.
Caminhando, lá vou coxa e aleijada.